domingo, 21 de abril de 2013

Réus foram condenados a 156 anos de prisão

21/04/2013 01h29 - Atualizado em 21/04/2013 10h13

Jurados condenam 23 PMs por mortes no Carandiru em 1992

Réus foram condenados a 156 anos de prisão, mas podem recorrer livres.
Júri terminou na madrugada de domingo (21) no Fórum da Barra Funda.


Nathália Duarte *Do G1 São Paulo

Os sete jurados condenaram, na madrugada deste domingo (21), 23 policiais militares pela morte de 13 presos, em 1992, na Casa de Detenção do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo. A pena é de 156 anos de prisão para cada, mas eles podem recorrer em liberdade. Três dos 26 réus foram absolvidos. A sentença foi lida pelo juiz José Augusto Nardy Marzagão à 1h15 no Fórum da Barra Funda.
A decisão dos jurados e a sentença ocorrem depois de um longo dia de debates entre defesa e acusação, com uso da réplica e da tréplica. A última fase, antes da votação dos jurados, começou durante a manhã e terminou às 21h25, com a fala da advogada de defesa, Ieda Ribeiro de Souza. Depois, os jurados responderam mais de 1,5 mil perguntas na sala secreta. Foram usadas 290 folhas de questionário para cada jurado.
O júri absolveu Maurício Marchese Rodrigues, Eduardo Espósito e Roberto Alberto da Silva, como havia pedido o Ministério Público. O promotor Fernando Pereira da Silva também pediu que os jurados desconsiderassem duas das 15 vítimas. Segundo ele, esses detentos foram mortos por golpes de arma branca, o que pode significar que foram assassinados pelos próprios presos. Por isso, os 23 PMs foram condenados por 13 mortes.
Advogada de defesa diz que já recorreu da sentença (Foto: Nathália Duarte/G1)
Advogada de defesa diz que já recorreu da
sentença (Foto: Nathália Duarte/G1)

Os réus condenados são: Ronaldo Ribeiro dos Santos, Aércio Dornelas Santos, Wlandekis Antonio Candido Silva, Antonio Luiz Aparecido Marangoni, Joel Cantilio Dias, Pedro Paulo de Oliveira Marques, Gervásio Pereira dos Santos Filho, Marcos Antonio de Medeiros, Paulo Estevão de Melo, Haroldo Wilson de Mello, Roberto Yoshio Yoshikado, Salvador Sarnelli, Fernando Trindade, Argemiro Cândido, Elder Tarabori, Antonio Mauro Scarpa, Marcelo José de Lira, Roberto do Carmo Filho, Zaqueu Teixeira, Osvaldo Papa, Reinaldo Henrique de Oliveira, Sidnei Serafim dos Anjos e Marcos Ricardo Poloniato.
A advogada de defesa, Ieda Ribeiro de Souza, disse que já entrou com o recurso contra as condenações. "Eu vi com muita frustração. A diferença foi de um voto. Eu não esperava nenhuma condenação", disse ao deixar o fórum. "A condenação não reflete o pensamento da sociedade. Um único jurado definiu o futuro desses homens", lamentou.
Promotores comentam decisão ao deixar fórum (Foto: Nathália Duarte/G1)
Promotores comentam decisão ao deixar fórum
neste domingo (Foto: Nathália Duarte/G1)

20 anos depois
O julgamento do massacre no Carandiru ocorreu mais de 20 anos após a invasão na Casa de Detenção, na Zona Norte de São Paulo. A ação terminou com a morte de 111 presos após a Polícia Militar entrar no Pavilhão 9 para controlar uma rebelião.
Desde 2 de outubro de 1992, quando a PM fez a invasão, somente um acusado havia sido julgado: o coronel Ubiratan Guimarães. Ele foi condenado em 2001 a 632 anos de prisão, em júri popular, por ter dirigido a operação. Em 2006, o júri foi anulado pelos desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Meses depois da absolvição, Ubiratan foi morto a tiros no apartamento onde morava, nos Jardins.
Neste júri, foram julgados 26 dos 79 policiais militares acusados de participar da invasão. Os 26 réus responderam em liberdade pela morte de 15 deles no 1º andar do Pavilhão 9. Dois deles não puderam comparecer ao júri devido a problemas de saúde, segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo.
Cronologia Massacre do Carandiru 8/4 (Foto: Arte/G1)
O julgamento: atrasos e indefinição
O juiz José Augusto Nardy Marzagão iniciou o julgamento na segunda-feira (15). Os trabalhos deveriam ter começado dias antes, mas uma integrante do júri passou mal e o início do julgamento foi adiado em uma semana.
No primeiro dia de julgamento, três sobreviventes do massacre afirmaram que PMs executaram presos e alteraram a cena do crime. Um agente carcerário e um perito criminal também foram ouvidos e disseram que as tropas invadiram o segundo pavimento do Pavilhão 9 e, depois de matar presos, atrapalharam a perícia e impediram o socorro às vítimas.
No quarto dia de trabalhos e quinto dia de julgamento, os réus falaram ao júri. Disseram ter ouvido disparos ao entrar na cadeia, denunciando o suposto uso de armas de fogo pelos detentos. Um dos policiais admitiu ter usado uma metralhadora durante a ação. Apenas quatro dos 24 PMs presentes deram depoimento. Vinte decidiram permanecer calados, mas se declararam inocentes das acusações.

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